quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A Grande Máquina, o Big Brother, o Panopticon

Quanto mais o cidadão metropolitano perdeu a intimidade com os outros, quanto mais se tornou incapaz de olhar os seus semelhantes nos olhos, mais consoladora se torna a intimidade com o dispositivo, que aprendeu a perscrutar-lhe a retina: quanto mais se desprendeu de qualquer identidade e qualquer pertença real, mais gratificante se torna para ele ser reconhecido pela Grande Máquina, nas suas infinitas e minuciosas variantes, da barreira giratória do acesso ao metro à caixa multibanco, da telecâmara que o observa benévola enquanto entra no banco ou anda pela rua, ao dispositivo que lhe abre a porta da garagem, e ao futuro cartão de identidade obrigatório que o reconhecerá, sempre e em qualquer parte, inexoravelmente como aquele que é. Existo se a Máquina me reconhece ou, pelo menos, me vê; estou vivo se a Máquina, que não conhece sono ou vigília, mas se mantém eternamente desperta, garante que estou vivo; não estou esquecido se a Grande Máquina regista os meus dados numéricos ou digitais.

Giorgio Agamben, Nudez, Relógio D’Água, 2010, Pág. 69.

Recomendo o livro O Viajante de John Twelve Hawks


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