sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O original e o originário

Para uma badalhoca do Facebook, para quem não conhece poderá verificar na secção "pessoas que talvez conheças", não basta colocar uma foto em bikini em pose vulgar. É preciso colocar como legenda uma frase muito profunda de um escritor consagrado. "As redes sociais estão a arruinar a saúde dos escritores. A Clarice Lispector está carregada de bicho desde o tempo do Orkut e agora a vida dela está por um fio. Aqui em Portugal sou eu que me lixo. Senti-me mal depois de ter sido usado numa foto de uma esteticista do Seixal e fui ao médico. O Alberto Caeiro apanhou sífilis, o Álvaro de Campos tem SIDA e o Ricardo Reis está com uma comichão irritante nos tintins e sente ardor depois de urinar", lamentou Pessoa.




Fenomenal! Hoje já não se criam novas frases, pensamentos, ideais. Hoje recorre-se ao que já foi criado mas com isso as pessoas julgam que são 'originais' por 'postar' uma frase que ainda ninguém postou deste ou daquele escritor.

Hoje em dia parece cool e inteligente andar a publicar 'frases sentidas' para não falar das imagens de golfinhos no mar em pleno luar.

E já agora vou citar Einstein "Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse a nossa interacção humana, e o mundo terá uma geração de idiotas". Esse dia chegou (já há muito tempo...)!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O alemão que recusou o euromilhões

Ernest Tison - alemão - rejeitou o jackpot de 50 milhões?
Ok, ok... eu compreendo perfeitamente as suas razões mas já que tinha ganho o prémio...

Não vivemos num mundo perfeito. O ser humano tornou-se num animal egoísta e egocêntrico. E compreensível que cada vez que lemos a noticia de um sem-abrigo que encontrou uma mochila com 31 mil euros e devolveu ou um alemão que rejeitou o prémio do euromilhões, fiquemos incrédulos com tal situações.

Vocês devolviam a mochila? Vocês rejeitariam o prémio? Claro que estamos a falar de coisas bem diferentes – se bem que em ambos os casos o dinheiro “é de alguém” e se tivermos em consideração os argumentos de Ernest, serão também ambos ganhos de forma desonesta.

Mas a verdade é que a maioria das pessoas não rejeitariam coisa nenhuma. Mais do que uma crise económica, estamos perante uma crise de valores. Uma coisa leva a outra e assim sucessivamente. Não fazemos ideia onde chegará mas de uma coisa já temos a certeza: são estes “egoístas” que se têm safado da melhor forma.

Valerá a pena? Apenas depende daquilo em que cada um acredita e isso é coisa que não vou discutir aqui…
  

 “Acho deprimente este tipo de concursos, e a culpa deles existirem somos nós, pessoas que precisam de dinheiro e não têm como consegui-lo e no fundo, mais alimentam os nossos sonhos e ambições que nunca conseguiremos… Enquanto outros enriquecem as nossas custas, o valor de prémio que eles entregam, eles lucram três ou quatro vezes mais por semana. O prémio que eles oferecem é um insulto para nós, população que gastamos muito dinheiro. É por isso que nunca joguei, foi apenas uma excepção, e arrependo-me disso…! Caso não seja possível rejeitar o prémio, irei recebe-lo e guardar metade para os meus filhos e a outra metade para doar a instituições de caridade, não usarei esse dinheiro para meu prazer. Recuso-me…!

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Uma coisa é certa - pelo menos o Ernest está muito bem informado quanto à mecânica das coisas...

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A "carta a um filho que emigrou"

Eu ia. mas teria de ir sem sequer olhar para trás, sem sequer pensar duas vezes. 

É tão fácil falar, é tão fácil recomendar. E a balança quem a pesa? Somos nós, nós que vamos sem pensar no que deixamos para trás. Somos nós que levamos uma mochila às costas repleta de sonhos, vontade e saudade. Mas essa sim, essa saudade iria matar-me. 
Sempre disse que em primeiro lugar iria ver o que o MEU país tinha para me oferecer. Caso contrário só teria de fazer a mala. 
Mas felizmente cá continuo! Trabalho na minha área, moro num dos meus locais preferidos. 
Costumo dizer que sou uma "lucky girl".

Mas esses que vão, esses que sentem e morrem de saudade, esses que não têm outra escolha?
A dor deverá ser mais que muita e a esses só desejo a maior sorte do mundo! 

Nicolau Santos, faço das suas as minhas palavras! 

"Não sei, meu filho, como te vai correr a vida, agora que foste à procura de emprego fora de Portugal. Nem a dos teus amigos que estão no Brasil, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, China, Angola, Moçambique. Sei somente que a tua geração se preparou, esforçou, estudou, trabalhou arduamente para ter um futuro diferente deste. Sei também que houve gerações antes de vossa que lutaram, sofreram, morreram para que este país fosse diferente e que não mais os seus cidadãos tivessem de emigrar para poderem ganhar a vida condignamente.

Sim, eu sei que a tua geração está muito mais bem preparada e é muito mais cosmopolita do que aquelas que emigraram nas décadas anteriores. O mundo para vocês não é algo desconhecido e que atemoriza. E sei que há muita gente que defende que esta emigração é excelente, porque vos coloca perante outras realidades profissionais, vos permite criar uma rede internacional de contactos e vos possibilita experiências que vos tornarão não só melhores especialistas nas vossas áreas como cidadãos do mundo.

Contudo, todos nós deveríamos ter o direito de viver no país onde nascemos. Emigrar por vontade e decisão é uma coisa, emigrar por necessidade e obrigação é outra muito diferente. Mas foi aqui que chegámos de novo: um país que não consegue criar empregos para os seus melhores ou que lhes oferece 700 euros por mês, que forma investigadores e cientistas em catadupa, mas que depois não lhes proporciona emprego nas empresas nacionais, que investe fortemente através dos seus impostos na formação altamente qualificada dos seus jovens e depois os deixa partir sem pestanejar para colocarem os seus conhecimentos ao serviço de outros países.
Sei ainda mais. Sei que vocês não deixam cá mulher (ou marido) e filhos. Vão constituir família nos países para onde foram obrigados a partir, ter filhos por aí, criar raízes noutras latitudes e com outras nacionalidades, o que tornará o regresso bastante mais difícil. Além disso, com a situação económica e etária que o país vive, este vai lenta e melancolicamente afundar-se com uma população de pobres, velhos e doentes, o que obviamente não atrai nem a energia nem a alegria dos jovens, nem o desejo de voltarem a viver por cá. Vocês voltarão algumas vezes pelas férias, mas a vossa vida será definitivamente nos países que vos acolheram e recompensam condignamente o vosso trabalho.

Vocês continuarão ligados a Portugal e vão até valorizar tudo o de bom que existe neste país, esquecendo a mediocridade, a inveja, a avidez, a corrupção, a luxúria, as desigualdades, a burocracia, a incompetência, o desrespeito por reformados, doentes e desempregados. Tentarão saber notícias pela net, ler livros em português, ver algum jogo de futebol nos computadores, enfim, sentirão vontade de estar mais ou menos a par do que por cá se vai passando. Mas pouco a pouco a distância, as exigências profissionais, os compromissos familiares vão sobrepor-se e vocês ir-se-ão distanciando do país e integrando cada vez mais noutras realidades, perante a indiferença da classe política e o incentivo do primeiro-ministro, que desconhece que um país que perde os seus melhores só pode ter um futuro sombrio à espera.

Parafraseando Jorge de Sena, que foi obrigado a exilar-se e sempre sentiu enorme raiva por isso, não sei que mundo será o teu, mas é possível, porque tudo é possível, que seja aquele que desejo para ti. Mas queria que fosses tu a escolhê-lo e não que te obrigassem a emigrar. E isso dói. A ti, a mim, à tua família, aos teus amigos. E devia doer, e muito, ao teu país".

fonte: http://www.leituras.eu/?p=11587#sthash.1PN8nZdY.dpbs